Livros, música, cinema, política, comida boa. Isso tudo e mais um montão de tranqueiras dentro de um baú aberto.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Espécie humana

Imagine um livro em que a história se passa num local longínquo e completamente distante da nossa realidade. Os personagens são diferentes de tudo o que somos, a origem, a religião, enfim, nada que se passa na narração se identifica com a maioria das pessoas. Um livro assim teria tudo pra não despertar nosso interesse. Pois Dois Irmãos, do escritor manauense Miltom Hatoum, tem todas estas características e prende a nossa atenção de cabo a rabo. O grande segredo é que o livro trata de questões muito conhecidas dessa nossa desolada espécie, a humana. Afinal, somos os únicos exemplares do reino animal capazes de sentir inveja e rancor. De praticar atos de vingança. De ter prazer com o sofrimento de um semelhante. Nenhum outro animal tem estas características. Somente nós, os racionais.

O fato de, no livro, estes sentimentos e atitudes existirem entre dois irmãos, só reforça nossa triste condição.

Miltom Hatoum é um craque e o livro é muito bom. É um balde de água fria naqueles que insistem em enxergar nossa espécie com otimismo exagerado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Capa & título sempre chamaram minha atenção, nas nossas visitas freqüentes às livrarias. Acho que por causa da canção do Chico, qu'eu adoro! Depois, veio o nome do autor, críticas favoráveis, até que um dia compramos o livro. Ainda não li, mas o farei.

Morro Dois Irmãos
Chico Buarque/1989

Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os instrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio

Penso ouvir a pulsação atravessada
Do que foi e o que será noutra existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos

É assim como se o ritmo do nada
Fosse, sim, todos os ritmos por dentro
Ou, então, como uma música parada
Sobre uma montanha em movimento