O que o título do livro A Mosca Azul, de Frei Betto, nos promete é uma análise de como o poder seduz as pessoas, a ponto de fazê-las esquecer seus dogmas e ideais. Promete e cumpre. De fato, neste livro, o autor descreve de que maneira o PT, estando no poder, deixou-se contaminar por todos os vícios que criticara, quando oposição.
Frei Betto acompanhou todo o processo de criação do PT, desde as reuniões preliminares à sua fundação até o momento que o partido ganhou a eleição presidencial. Sem nunca ter sido filiado, sempre participou da vida do partido, chegando a ocupar um cargo nos primeiros momentos do governo Lula. Claramente contrário aos rumos que o partido tomou, afastou-se.
O livro, entretanto, nos oferece muito mais que isto. Com certa erudição, mas sem arrogância, ele cita diversos filósofos para explicar fenômenos como as mazelas do poder, a diferença entre governo e estado, e, sobretudo, sua visão socialista das realidades brasileira e mundial.
Fundamentalmente, Frei Betto possui duas crenças. A fé religiosa e a fé no socialismo. Sem perder a perspectiva histórica, ele crê, com sinceridade, nesta forma de estado como solução para os problemas sociais. E apesar de ter a consciência das necessidades individuais do ser humano, persiste em sua crença na possibilidade de uma sociedade que sobreponha os interesses coletivos aos pessoais.
É aí que, a meu ver, reside o maior conflito desta história. Pessimista que sou, não creio que o caráter essencial do ser humano seja o do solidário, mas sim, o do egoísta. De uma espécie capaz de sentimentos como inveja e rancor, e de atitudes como a tortura e a escravização do semelhante, não se deve esperar muita coisa.
Na parte final do livro, ele faz uma excelente defesa da comunhão entre religião e política. A igreja, ao longo da história, sempre pregou que religião e política devem estar dissociadas. Apesar disto, a igreja, sobretudo a católica, sempre se colocou ao lado dos poderosos. O que Frei Betto sustenta é que a religião deve andar sempre ao lado da política e que o papel do religioso é o de dar apoio aos mais pobres e oprimidos pela sociedade. Defende, assim, a atuação das comunidades eclesiais de base e o discurso da Teologia da Libertação.
Mais uma vez, meu ceticismo vai de encontro a esta tese. Ateu que sou, não enxergo as pessoas, apesar de se declararem religiosas, seguindo radicalmente os preceitos de suas crenças. Insisto que, do meu ponto de vista, vejo muito mais gente preocupada consigo mesma do que com o próximo. E isso não é uma crítica. É a essência do ser humano.
Cristão que é, Frei Betto identifica no discurso e atitudes de Jesus, a proximidade com o discurso socialista. É como na ótima letra de Tiro de misericórdia, de Aldir Blanc, que o coloca ao lado de outros contestadores:
Frei Betto acompanhou todo o processo de criação do PT, desde as reuniões preliminares à sua fundação até o momento que o partido ganhou a eleição presidencial. Sem nunca ter sido filiado, sempre participou da vida do partido, chegando a ocupar um cargo nos primeiros momentos do governo Lula. Claramente contrário aos rumos que o partido tomou, afastou-se.
O livro, entretanto, nos oferece muito mais que isto. Com certa erudição, mas sem arrogância, ele cita diversos filósofos para explicar fenômenos como as mazelas do poder, a diferença entre governo e estado, e, sobretudo, sua visão socialista das realidades brasileira e mundial.
Fundamentalmente, Frei Betto possui duas crenças. A fé religiosa e a fé no socialismo. Sem perder a perspectiva histórica, ele crê, com sinceridade, nesta forma de estado como solução para os problemas sociais. E apesar de ter a consciência das necessidades individuais do ser humano, persiste em sua crença na possibilidade de uma sociedade que sobreponha os interesses coletivos aos pessoais.
É aí que, a meu ver, reside o maior conflito desta história. Pessimista que sou, não creio que o caráter essencial do ser humano seja o do solidário, mas sim, o do egoísta. De uma espécie capaz de sentimentos como inveja e rancor, e de atitudes como a tortura e a escravização do semelhante, não se deve esperar muita coisa.
Na parte final do livro, ele faz uma excelente defesa da comunhão entre religião e política. A igreja, ao longo da história, sempre pregou que religião e política devem estar dissociadas. Apesar disto, a igreja, sobretudo a católica, sempre se colocou ao lado dos poderosos. O que Frei Betto sustenta é que a religião deve andar sempre ao lado da política e que o papel do religioso é o de dar apoio aos mais pobres e oprimidos pela sociedade. Defende, assim, a atuação das comunidades eclesiais de base e o discurso da Teologia da Libertação.
Mais uma vez, meu ceticismo vai de encontro a esta tese. Ateu que sou, não enxergo as pessoas, apesar de se declararem religiosas, seguindo radicalmente os preceitos de suas crenças. Insisto que, do meu ponto de vista, vejo muito mais gente preocupada consigo mesma do que com o próximo. E isso não é uma crítica. É a essência do ser humano.
Cristão que é, Frei Betto identifica no discurso e atitudes de Jesus, a proximidade com o discurso socialista. É como na ótima letra de Tiro de misericórdia, de Aldir Blanc, que o coloca ao lado de outros contestadores:
(...) – irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Por que me abandonaram?
Por que nos abandonamos
Em cada cruz?
– irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma:
Ganga, Lumumba, Lorca, Jesus (...)
3 comentários:
Olá!
Como vi esse assunto aqui vou aproveitar pra recomendar o filme (documentário) Entreatos do João Moreira Salles. Eu não assisti ainda mas meus professores disseram que é ótimo. O documentário mostra os bastidores da campanha eleitoral do Lula em 2002. Uma equipe de filmagem acompanhou e gravou reuniões, conversas privadas do partido... Parece ser legal...
Bom, já fiz minha recomendação.
Saudades de todos aí!
Bá,
Eu também não vi esse filme e sempre tive vontade de vê-lo. Acho que agora, só dá pra ver em DVD, não é?
Perfeito, Arnaldo. Compartilho de seu ceticismo, mas não abro mão do discurso otimista. Apesar de tudo, NÃO PASSARÃO! Se jogarmos a toalha, o que restará então? Abraços!
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